quarta-feira, abril 04, 2012

Ushuaia

Chegamos à cidade mais austral do mundo! O fin del mundo!
Pena a cidade não ser bonita, pois o enquadramento geográfico é fantástico - assente numa baia na margem do canal Beagle, que separa as partes mais austrais do Chile e Argentina; no sopé do monte Martial, que tem um pequeno glaciar com o mesmo nome, sempre visível da cidade, incluído numa porção da cordilheira dos Andes.

O paralelo 68 foi uma divisão arbitraria que dividiu a Ilha do Fogo em partes (quase) iguais, entre os estados do Chile e Argentina.
Ushuaia foi erigida em torno de uma prisão, mandada construir pelo governo para os presos mais perigosos, como forma também de fortificar a soberania do local. Tinha a vantagem de ser um local relativamente inóspito e, por se tratar de uma ilha, ser difícil a fuga do território. Seguiram modelos como a tasmânia pelos ingleses e ilha do diabo pelos franceses.
No local, os Prisioneiros foram utilizados como mão de obra para colheita de madeira, ao que se deve a construção de uma linha de comboio entre o que hoje é o parque natural e o centro da cidade.
Isso contribuiu para a devastação da floresta natural da região, ao que se veio somar nos anos 50 a introdução de castores com objectivo de criar industria de peles.

A chegada foi de noite e directa para hotel. Fomos jantar ao tia Elvira, um dos restaurantes mencionados nos guias, apesar de no tripadvisor aparecer a meio da tabela. Experimentamos a santola local - o famoso king crab, que não surpreendeu. Apesar de carnudo, mas não é extremamente saboroso. O restaurante estava cheio, por ser dos poucos abertos em dia de feriado nacional - comemora-se (ou lamenta-se) os 30 anos da guerra com UK pela soberania das Malvinas, algo que ainda está profundamente marcado nos locais. O restaurante era bom mas caro.

No dia seguinte acordamos cedo para visita ao parque nacional terra do fofo, que inclui uma viajem pelo comboio (linha que foi reabilitada da linha utilizada pelos presos no transporte de Madeira), que actualmente é um dos pontos turísticos. O passeio pelos vales é bonito, mas depois dos glaciares nada impressiona... Termina na baia Lapataia, que é onde termina também a ruta no 3, parte integrante e final da panamericana que começa no Alasca e atravessa as Américas.
Almoço no bar ideal, um pub de passagem turístico com mensagens nas paredes (dos turistas para... O mundo!). Hamburger congelado deprimente na terra da boa carne.
De tarde, passeio de catamaran pelo famoso canal Beagle até ao farol do fim do mundo (o ultimo da argentina), apesar do ultimo de facto ser o de cabo huernos a cerca de 200km; é confundido com o do conto de Júlio verne, que se situa na ilha Staten (na altura em que o livro foi escrito, era de facto o mais austral). Chegada à tão almejada pinguinera, na ilha Martillo onde reside uma colónia de pinguins Magalhães e alguns gentoo (tradução?)
Jantar no Almacen Ramos Generales, que até 2006 foi um importante destribuidor de diversas mercadorias, mas que desde há ~5 anos funciona como restaurante/confiteria. O espaço é decorado com todo tipo de artigos que eram comercializados, o que o torna uma espécie de galeria de antiguidades. É engraçado o frigorifico GM dos anos 50 que ainda funciona! A ementa faz-se sobretudo de pequenos pratos para picar/partilhar. Os pratos são poucos e não impressionam mas vale pelo local.
O ultimo dia também se fez de passeios a pé pela cidade, já com a característica chuva presente. Os museus acabaram por não ser visitados.




Ficou por ver o estreito de Magalhães, que se situa na margem norte da ilha, e que é o local emblemático que serviu de ligação entre os 2 oceanos na primeira viagem de circum-navegação: a comprovação de o mundo ser redondo, e a chegada ao oriente por via do ocidente. Alias, o nome terra do fogo terá sido posto por Magalhães devido as fogueiras que os indígenas fariam para comunicar entre eles.

É uma sensação anacrónica, a da portugalidade no fim do mundo...

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